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Cirurgia de Tecidos Moles – Biopsia Carcinoma Verrucoso Da Língua

Identificação
Manuel Pereira Dias, Homem, 70 anos, leucoderma.

Historia Clínica e Anamnese
Doente encaminhado, em Outubro de 2014, pelo Médico Gastroenterologista,
para a consulta de Medicina Oral no Hospital Privado de Alfena, devido a
tumefacção na língua. Fumou durante 30 anos, tendo deixado hà 20. Sofre de
DPOC.

Exame Clínico
Tumefacção de carácter exofítica e vegetante de
consistência fibrosa, sem aderências, no bordo direito, do
1/3 médio da língua . Lesão branca, em placa, com aspecto
leucoplásico, que cobre parte da lesão exofítica, mas que
se estende para além da mesma. Lesão com
aproximadamente 2 cm no sentido antero-posterior e de
1cm de altura
Má higiene oral e língua com pelicula branca que se
destaca com facilidade, fazendo lembrar candidíase. Sem
adenopatias palpáveis nas cadeias ganglionares submandibulares e do pescoço.

 

Diagnóstico e Plano de tratamento
Diagnósticos diferenciais:
– Leucoplasia verrucosa proliferativa, Fibroma, Hiperplasia fibrosa, Leiomioma, Carcinoma
Epidermóide, Tumor de células Granulares, Rabdomioma, Ameloblastoma Periférico,
Carcinoma Verrucoso.
Devido às dimensões da lesão, propôs-se biópsia incisional.

 

Procedimento cirúrgico Biópsia Incisional – optou-se por retirar parte da zona
hiperplásica, bem como parte da lesão branca.
Cirurgia realizada em Outubro de 2014
Assepsia intra-oral com clorohexidina a 0,12%. Anestesia local infiltrativa, com articaína a
4%, com adrenalina 1:100.000. Incisão em forma de elipse da mucosa, lamina 15c.
Divulsão com tesoura Goldmam-Fox e dissecção com tesoura de Metzembaum e pinça
atraumática. Irrigação de soro fisiológico para lavagem. Sutura interna da camada
muscular com sutura reabsorvível VICRYL™ 4-0 e Dissecção das margens epiteliais para
facilitar sutura. Sutura pontos simples com fio de poliamida (supramid) 4/0.

Medicação Pós-Operatória
Ibuprofeno 600 mg 8/8h, 3 SOS
ELUDRIL CLASSIC – Clorohexidina 0,1% + Clorobutanol 0,5% -Manhã/noite 15 dias.
Oito dias após a biopsia, a sutura foi retirada.

Resultado da Anatomia Patológica
“Alterações hiperplásicas reactivas, em relação com presença
de fungos compatíveis com “cândida” .
Segundo nossa opinião, e tendo em conta o aspecto clínico
da lesão, o resultado histológico não era satisfatório.
Restavam dúvidas.
Assim, solicitamos ao doente para repetir a biópsia no prazo
máximo de 1 a 2 meses .
No entanto, o doente faltou às consultas e só em Janeiro de
2016 compareceu de novo à consulta de Medicina Oral.
Entretanto, referiu dois episódios de internamento
hospitalar . Primeiro, por DPOC agudizado por infecção
respiratória, e, o segundo devido a infecção renal e retenção
urinária. Mantem utilização de cateter urinário.
A lesão oral mantinha-se praticamente com o mesmo
aspecto que apresentava em Outubro de 2014.
Decidimos realizar nova biópsia incisional.

 

Cirurgia realizada em Janeiro de 2016
Biópsia Incisional – Desta vez optou-se por retirar fragmento
da lesão da zona posterior, ao contrario da 1º biópsia em que
retiramos fragmento da zona mais anterior .
Procedimento idêntico à cirurgia anterior .
Medicação Pós-Operatória
– Paracetamol 1 g – 1 comp 8/8 SOS.
– Clorohexidina 0,12% Buchechar Manhã/noite ,14 dias.
Acompanhamento Pós-Operatório: Oito dias após a cirurgia, foi retirada a sutura. O Pósoperatório decorreu sem intercorrências.

 

 

 

 

 

Acompanhamento Pós-Operatório
Quinze dias após, o relatório anatomopatológico descreve a lesão como Carcinoma
Epidermóide, bem diferenciado, do tipo verrugoso. Margem da exérese com lesão.
Encaminhou-se o doente para a consulta de oncologia no nosso hospital(HPA) e propôs-se
uma segunda cirurgia para exérese da lesão com margens de segurança.
O tumor foi classificado provisoriamente como T2 N0 M0.
Segundo o oncologista, o doente não apresenta sinais de metáteses, nem gânglios
afectados. Uma TAC abdominal superior, do pescoço e do tórax não revelou metástases nas
cadeias gânglionares do pescoço nem metástases pulmonares.
Entretanto, o Doente foi submetido a cirurgia para recessão da lesão com margens. A
exérese da lesão foi completa. É mantido em vigilância de 3 em 3 meses.

Análise Crítica e Conclusão
A primeira descrição do carcinoma verrucoso(VC) foi realizada por Friedell e Rosenthal em 1941,
sendo reconhecida por Ackerman em 1942.
Conforme definido por Ackerman, é uma variante rara , bem diferenciado de carcinoma de células
escamosas oral, que não metastisa, tendo um padrão de crescimento local lento e contínuo,
exofítico e de aspecto verrucoso. Tal lesão tem predilecção pela mucosa da via aerodigestiva
superior, com maior incidência na cavidade oral (75%), seguida pela laringe (25%). Acomete
pacientes da quarta à oitava décadas de vida, sobretudo a sexta. Quatro em cada cinco pacientes
são do sexo masculino. Macroscopicamente caracteriza-se por um lento e progressivo crescimento
superficial exofítico tipo verruga hiperqueratótica, com bordos bem delimitados que tendem a
invadir de forma local e não se dissemina ao sistema linfático e nem à distância.
Histologicamente observa-se uma proliferação supra-basal de células escamosas bem
diferenciadas formando lacunas papilares que empurram a membrana basal. A atípia celular é
rara.
Devido ao seu alto grau de diferenciação celular, o seu diagnóstico histológico pode gerar
dificuldades.
Pacientes com VC têm um excelente prognóstico .
Os carcinomas epidermóides representam 90% dos casos de tumores malignos de língua. O
comprometimento ganglionar varia de acordo com a extensão do tumor primitivo. É
aproximadamente de 20% para T1, 50% para T2/T3 e 75% para T4. O carcinoma verrucoso,
variante de baixo grau do carcinoma epidermoide, é unifocal e dificilmente recidiva.

Análise Crítica e Conclusão
Clinicamente, o que se observa em 2014, é uma lesão verrucosa com leucoplasia. O exame
histológico não confirma tratar-se de carcinoma. A presença de hifas compatíveis com
Cândida nos cortes histológicos da primeira biópsia impediu um correcto diagnóstico, já
que não podia ser colocada de parte que as alterações epiteliais observadas fossem
secundárias à infecção. Por outro lado , o alto grau de diferenciação das células, também,
dificulta normalmente estes diagnósticos.
No entanto, quando restam dúvidas, devemos repetir a biópsia, tratando previamente a
candidíase. Neste caso clínico, confirmou-se essa necessidade, tendo sido realizada mais
de um ano depois, por falta de cooperação do doente. Mantemos o doente em vigilância.

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