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Cirurgia de Tecidos Moles – Biopsia Carcinoma Epidermóide da Língua

Identificação
MPD, Mulher , 60 anos, leucoderma, empregada têxtil.

Historia Clínica e Anamnese
Doente encaminhada, em Abril de 2015, pelo Médico assistente, para a
consulta de Medicina Oral no Hospital Privado da Boa Nova, devido a
ulcera na língua. Refere mal estar na língua à cerca de 2 meses. Nunca
fumou. Sofre de osteoporose. Nega outras patologias. Medicada com
Calcitab D e Fosavance.


Exame Clínico
Lesão leucoplásica em placa, ulcerada na zona central, com bordos
irregulares e palpáveis com evolução de 2 meses no bordo lateral da
língua do lado esquerdo. Lesão com aproximadamente 0,8 cm no
sentido antero-posterior e de 0,5 cm de altura.
Sem adenopatias palpáveis nas cadeias ganglionares sub-mandibulares
e do pescoço.

Diagnóstico e Plano de tratamento
Diagnósticos diferenciais:
– Leucoplasia, Ulcera traumática, Carcinoma.
Propôs-se biópsia excisional com margens de segurança +/- 10 mim, incluindo
tecido muscular .

Procedimento cirúrgico Biopsia Excisional
Cirurgia realizada em Abril de 2015
Assepsia intra-oral com clorohexidina a 0,12%. Anestesia local infiltrativa, com
articaína a 4%, com adrenalina 1:100.000. Colocação de sutura em redor da lesão
para tracção cirúrgica. Incisão em forma de elipse da mucosa, lamina 15c.
Divulsão com tesoura Goldmam-Fox e dissecção com tesoura de Metzembaum e
pinça atraumática. Irrigação de soro fisiológico para lavagem. Sutura interna da
camada muscular com sutura reabsorvível VICRYL™ 4-0 e Dissecção das margens
epiteliais para facilitar sutura. Sutura pontos simples com fio de poliamida
(supramid) 4/0.

Medicação Pós-Operatória
Ibuprofeno 600 mg 8/8h, 3 SOS
ELUDRIL CLASSIC – Clorohexidina 0,1% + Clorobutanol 0,5% – 0,12% -Manhã/noite, 15 dias.
Oito dias após a biópsia, foi realizada a exérese da sutura.

Fig. 11 – Relatório Anatomopatológico

Acompanhamento Pós-Operatório
Oito dias após a cirurgia, foi retirada a sutura. O Pós-operatório decorreu sem
intercorrências. Decorridos quinze dias, o relatório anatomopatológico descreve a lesão
com: Carcinoma Epidermoide, bem diferenciado.
Margem da exérese com lesão a 2,5 mm lateralmente e 3,5 mm em profundidade.
À palpação não foram assinalados gânglios palpáveis nas cadeias submaxilares e
cervicais.
Encaminhou-se a doente para a consulta de oncologia no nosso hospital(HPA), para
estadiamento. O tumor foi classificado provisoriamente como T1 N0 M0.

 Fig. 12 – Relatório Anatomopatológico da 2º cirurgia realizada pela cirurgia plástica

 

Acompanhamento Pós-Operatório
Segundo o oncologista, a doente não apresenta sinais de metáteses, nem gânglios
afectados. Uma TAC abdominal superior, do pescoço e do tórax não revelou metástases
nas cadeias ganglionares do pescoço nem metástases pulmonares.
Cerca de um mês depois, a doente foi submetida a cirurgia para alargamento de
margens, pela cirurgia plástica do Hospital Privado Da Boa Nova.
O exame anatomopatológico descreve ausência de neoplasia.
A doente foi observada na nossa consulta decorridos 6 meses. Apresentava a língua
sem lesões, com boa mobilidade, e dicção normal. Mantem-se em vigilância, com
consultas de controle espaçadas por 6 meses. Não apresenta até agora sinais de
recidiva.

Análise Crítica e Conclusão
Os carcinomas epidermóides representam 90% dos casos de tumores malignos de
língua. O comprometimento ganglionar varia de acordo com a extensão do tumor
primitivo. É aproximadamente de 20% para T1, 50% para T2/T3 e 75% para T4.
Os estadios iniciais do carcinoma da língua são normalmente tratados com cirurgia. A
combinação com radioterapia é utilizada em fases mais avançadas da doença.
Há consenso entre autores em considerar a excisão cirúrgica como otratamento
indicado para o estadio I do carcinoma da língua. Para o estadio II, porém, no qual
pode existir invasão dos nódulos linfáticos, requer-se por via de regra o esvaziamento
dos gânglios cervicais de forma a fornecer informação sobre o envolvimento ganglionar
e determinar a necessidade de radiação adjuvante.
A bibliografia é consensual ao aconselhar margens de 1cm embora alguns autores
preconizem como mínimo aceitável os 0,5mm. De facto, Hicks et al, registaram
recidivas locais em 15 % das exéreses com margem estreita inferior a 1 cm e 9 %
quando as margens ultrapassavam essa dimensão.
A Doente é actualmente mantida em vigilância, de 6 em 6 meses, durante os próximos
5 anos.

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